# OFF-STAGE #06 – A Jornada de 10 Anos com Phedilson
Celebrando uma década da BANTUMEN com o primeiro concerto do rapper angolano em Lisboa
Estava nos primeiros meses da BANTUMEN, bem antes do lançamento oficial, em outubro de 2014 em Angola, quando Mauro Feijó me convidou para entrevistar ele, Phedilson Ananás e S-Bruno, que estavam em estúdio a terminar o EP "Dipanda", um Extended Play que descortinava os 40 anos da independência de Angola.
Numa altura em que ainda tinha a paciência de Job, combinámos gravar numa das passagens de peões na estrada da Gamek em Luanda. Desde então, passei a conhecer o rap e a acompanhar o trabalho do Phedilson. Não existe um compromisso de amizade, mas sim uma parceria de trabalho que passa pela distribuição e comunicação das suas obras.
Em 2018, quando a redação da BANTUMEN já pairava por Lisboa, Phedilson veio para Portugal para dar seguimento aos seus estudos em Matemática Aplicada na Universidade Nova, e voltámos a conversar. O título desse artigo foi "Docente e tropa sem farda".
Falámos sobre como a matemática apareceu na vida dele meio por acaso, sobre o facto de ser rapper e ao mesmo tempo professor universitário no exército, e sobre a sua visão do ensino e da guerra em Angola. O mais curioso foi perceber como ele sempre conseguiu separar bem as várias facetas: o militar, o artista e o professor — tudo com uma calma e lucidez que só quem viveu muito cedo a seriedade da vida consegue ter. Acho que foi a primeira vez que o vi falar tão abertamente do lado militar. E foi bonito.
Foi nesta altura que lançou o single "Preguiçoso" num terraço, quase por acaso. Apenas para manter o canal de YouTube ativo, mas esse som mudou tudo. A partir daí, veio o "Surra" com o MadKutz, e essa colaboração deu-lhe um lugar especial no mapa do hip hop tuga. Ele contou que, nessa altura, começou a receber chamadas e e-mails de várias agências — até uma das grandes mostrou interesse. Mas logo depois teve de voltar para Angola e não deu para aproveitar essa fase cá.
Mas esta também foi a fase em que consolidámos a nossa parceria, e fez todo o sentido trazer o Phedilson para as comemorações dos 10 anos da BANTUMEN.
No ano passado, eu e a minha sócia Vanessa Sanches, logo após a Powerlist, fomos sentar-nos com o Pedro Azevedo, responsável pelo Musicbox, onde pensámos em fazer um concerto para cada um dos países de língua portuguesa. Na altura, incluíamos também concertos para Portugal e Brasil, mas sentindo a pressão devido à pouca aderência dos primeiros eventos da Guiné-Bissau e Moçambique, a verdade é que o concerto de Cabo Verde no final de janeiro deste ano, com o Rahiz, já nos tinha deixado com algum receio.
A negociação com o Phedilson não foi difícil. Ele tinha acabado de lançar o álbum e de se desvincular da Galaxy e, mais do que tudo, nunca tinha feito um concerto em Portugal.
Negócio fechado, passagem e visto comprados, entrámos na fase de promoção. Com os concertos da Guiné e de Moçambique a fracassarem, entrámos na fase do medo, mas também com a certeza de que a nossa audiência é grande entre os angolanos e o público do Phedilson sempre esteve associado a nós, BANTUMEN.
Para nos apoiarem, tivemos como parceiros a Altafonte (que ainda tenho de perceber o que realmente fez), a Trace, que fez rodar publicidade no valor de 6 mil euros na Trace-Toca, a Imella, loja de produtos naturais que investiu em publicidade, e também a plataforma angolana 2 Contra 1.
Até às 18 horas do dia 23 de maio, o tal dia do concerto, só tínhamos vendido 48 ingressos online. A esperança na nova comunidade de imigrantes angolanos era a esperança para uma casa bonita, como foi.




A curadoria dos convidados ficou a cargo do Phedilson, que trouxe consigo Jimmy P, Hélia Sandra, Harold e Tennaz, que esteve presente no sound-check mas que não subiu ao palco. Até ao momento, não percebi o que aconteceu.
Não me esqueci da Cynthia Perez, que também fez parte do concerto, atuando na primeira parte acompanhada por Gari Sinedima. O nome dela surge porque tem estado no radar da BANTUMEN, mas também por uma questão de equidade.
A reportagem sobre o concerto já está no site, mas durante a apresentação do Phedilson, ele chamou ao palco um amigo de longa data, o Eddy, e contou a história do seu primeiro concerto, onde congelou. Lembrei-me que em 2016 já tinha escrito sobre este incidente. O objetivo era falar sobre a sua nomeação como Rapper Revelação no Angola Hip Hop Awards, mas acabámos por deslizar até à primeira atuação do Phedilson Ananás em palco, depois de ter conseguido entrar no cartaz de um espetáculo de MC K, na província do Huambo, em Angola. Naquela altura, o rapper apenas queria agradar aos amigos (Nuno e Eddy) e gravar as suas demos para passarem nos mp3 de todos. Assim que subiu ao palco, o medo de não superar as expectativas congelou-o.
Desta vez não aconteceu no Musicbox. Pelo contrário, foi um concerto bonito que marca a nossa amizade, os 10 anos de existência da BANTUMEN e a assinatura do primeiro de vários concertos internacionais que, com certeza, vai ter na sua carreira.
Obrigado, Phedilson.
Não sei o que vos trarei na próxima semana, mas estarei por Lisboa para o Festival Coala. Se gostaste desta viagem pelos bastidores da BANTUMEN, subscreve a newsletter para não perderes nenhum episódio. E se quiseres apoiar este projeto que te leva aos bastidores da cultura africana, considera a subscrição paga – prometo que cada cêntimo é investido em mais histórias como esta.