#OFF-STAGE #09 - Joana Alcântara e o futuro do jornalismo na era da IA
Quando a miúda que mal sabia usar o Google Drive virou a nossa guru de IA...
Há um momento na vida de toda organização em que é preciso olhar para o futuro e perguntar: estamos preparados para o que vem a seguir? Na BANTUMEN, esse momento chegou há cerca de dois anos, quando percebemos que precisávamos de uma ponte entre o nosso conhecimento consolidado e as novas formas de consumir conteúdo. Foi aí que a Joana Alcântara entrou na nossa história.
Conheci a Joana através do Mário, um colaborador que viu nela algo que talvez nem ela mesma conseguisse ver naquele momento - já formada em jornalismo e a trabalhar como locutora de uma rádio local angolana. "Ela tem potencial para fazer mais coisas além da locução", disse-me ele. E como o Mário raramente se engana sobre pessoas, decidi fazer uma videochamada com ela. Lembro-me perfeitamente desse primeiro contacto digital – ela estava no curso de inglês, a chamada caiu, e tive de ligar novamente. Um início caótico que, ironicamente, simbolizava bem o encontro entre duas gerações com formas diferentes de navegar no mundo digital.
"Eu entrei em 2023, e costumo dizer que entrei com dois por cento de conhecimento de jornalismo. Agora estou dentro da cena", contou-me a Joana durante a nossa conversa recente. O que ela não disse, mas eu percebi logo nos primeiros meses de trabalho, é que aqueles "dois por cento" vinham acompanhados de algo muito mais valioso: uma compreensão intuitiva de como a Geração Z consome, cria e partilha conteúdo.
É aqui que a magia acontece na BANTUMEN. Nós, os fundadores millennials, trazemos a experiência, o conhecimento do mercado, a visão estratégica construída ao longo de anos. A Joana e outros jovens talentos da Geração Z trazem a intuição digital, a capacidade de navegar sem esforço por novas plataformas e tecnologias, e uma compreensão visceral das tendências emergentes. É uma simbiose perfeita - quando funciona.
A história da Joana com o jornalismo começou de forma quase acidental. "A minha história com o jornalismo começa basicamente quando eu tinha 18, 19 anos. Não foi uma paixão de miúda", explicou-me. No colégio, era conhecida como "a menina que fala bem", e foi através de uma amiga que cursava jornalismo radiofónico que teve a sua primeira oportunidade. Depois de um estágio na Rádio Eclesia, passou cerca de 10 anos como locutora em várias rádios.
"Nunca foi a minha visão completa sobre jornalismo, nunca tive iniciativa para a escrita. O meu objetivo inicial era ser locutora, e eu declarava-me jornalista só pelo facto de ter um programa de rádio."

Esta trajetória não-linear é típica da Geração Z – uma geração que não se prende a carreiras tradicionais ou percursos pré-definidos. Eles navegam o mercado de trabalho de forma fluida, adaptando-se, reinventando-se, abraçando novas competências conforme necessário. E é precisamente esta fluidez que torna a Joana tão valiosa para a BANTUMEN num momento em que a inteligência artificial e outras tecnologias emergentes estão a redefinir completamente o que significa ser jornalista.
Quando a Joana chegou à BANTUMEN, confessou-me que mal sabia usar o Google Drive. "Tudo o que nós usamos de tecnologia, eu não tinha a mínima noção. Eu nem sequer sabia direito dominar uma Drive, pesquisar... são coisinhas muito básicas que eu não sabia."
Hoje, menos de dois anos depois, ela não só domina todas as nossas ferramentas digitais como está a liderar a exploração de como a inteligência artificial pode transformar o nosso trabalho. "Temos várias ferramentas que fazem com que o nosso trabalho aconteça de forma mais dinâmica, que tornam o nosso trabalho possível. Porque é uma equipa pequena, e eu acredito que se não tivéssemos as ferramentas que temos, ao invés de podermos produzir um conteúdo em 10, 15 minutos, levaríamos duas, três horas para concluir."
Esta é a verdadeira revolução silenciosa que está a acontecer na BANTUMEN e em redações de todo o mundo. Não se trata apenas de usar novas ferramentas, trata-se de repensar fundamentalmente o que significa ser um meio de comunicação no século XXI. E para isso, precisamos tanto da sabedoria dos millennials quanto da intuição digital da Geração Z.
Nós, millennials, crescemos numa era de transição. Lembro-me de redações cheias de papel, de gravadores de áudio (os famosos “caça-palavras”), de ter de esperar horas para descarregar uma fotografia. Testemunhámos a transformação digital dos media e adaptámo-nos a ela - por vezes com resistência, por vezes com entusiasmo. Mas a Geração Z? Eles nasceram digitais. Para eles, a tecnologia não é uma ferramenta, é uma extensão natural do seu ser.
É por isso que a Joana conseguiu, em tão pouco tempo, passar de alguém que mal sabia usar o Google Drive para uma profissional que está a ajudar a BANTUMEN a navegar o complexo mundo da inteligência artificial e das novas plataformas digitais. Ela não teve de "aprender" a pensar digitalmente, ela já pensa assim naturalmente.
"A partir do momento que eu deixo de ser apenas a Joana que escreve artigos e faz entrevistas, e passo a ser também a Joana que cuida da imagem das redes sociais da BANTUMEN, que faz a agenda cultural, e mais uma série de responsabilidades... para mim, esse é o maior desafio."
Este desafio que a Joana menciona é, na verdade, o desafio de toda uma indústria. O jornalista do futuro não será apenas alguém que escreve artigos ou faz entrevistas. Será um profissional multifacetado, capaz de navegar por diferentes plataformas, de compreender algoritmos, de trabalhar com inteligência artificial, de criar conteúdo que ressoe com audiências cada vez mais fragmentadas e exigentes.
E é aqui que a visão da Joana se torna particularmente valiosa. Ela entende, de forma intuitiva, como a Geração Z consome conteúdo, não de forma linear, não em formatos tradicionais, mas em explosões de criatividade através de múltiplas plataformas. Ela compreende que, para esta geração, a autenticidade é mais importante que a perfeição, que a conexão emocional é mais valiosa que a autoridade institucional.
Ao mesmo tempo, nós, os fundadores millennials da BANTUMEN, trazemos a experiência necessária para garantir que, no meio de toda esta transformação, não percamos de vista o que realmente importa: o jornalismo de qualidade, a verificação rigorosa dos factos, a profundidade da análise, a responsabilidade social.
É esta combinação - a intuição digital da Geração Z com o rigor jornalístico dos millennials - que está a definir o futuro da BANTUMEN. E é uma combinação poderosa.
Quando decidimos que a Joana viria para Portugal, foi tudo muito rápido, quase improvisado. "Nós já tínhamos programado, já sabíamos que em algum momento eu sairia de Angola. Entretanto, como a documentação não estava fácil, chegou a uma altura em que perdemos a esperança. E do nada, a situação foi resolvida, o visto saiu, e decidimos a viagem assim em horas. 'Joana, amanhã viajas.' E foi: 'Sim, eu viajo.'"
Esta capacidade de adaptação rápida, esta flexibilidade, é outra característica marcante da Geração Z que está a transformar a BANTUMEN. Num mundo onde a inteligência artificial está a evoluir a um ritmo vertiginoso, onde novas plataformas surgem e desaparecem quase diariamente, onde as expectativas das audiências mudam constantemente, esta capacidade de pivotar rapidamente, de experimentar sem medo, de abraçar a mudança em vez de resistir a ela, é inestimável.
Imaginem o futuro da BANTUMEN daqui a cinco anos. A inteligência artificial não será apenas uma ferramenta que usamos ocasionalmente, será uma colaboradora constante, ajudando-nos a analisar dados, a identificar tendências, a personalizar conteúdo para diferentes audiências, a traduzir instantaneamente entre várias línguas. As fronteiras entre texto, áudio, vídeo e realidade aumentada serão cada vez mais fluidas. O jornalismo será cada vez mais interativo, imersivo, personalizado.
E para navegar este futuro, precisaremos tanto da visão estratégica e do compromisso com a qualidade jornalística que nós, millennials, trazemos, quanto da intuição digital e da capacidade de adaptação rápida que a Joana e outros jovens talentos da Geração Z oferecem.
"Vejo-me como uma pessoa que possa ter controlo do editorial, que possa ter controlo de outras questões, uma pessoa multifuncional dentro da BANTUMEN", disse-me a Joana quando perguntei sobre o seu futuro. "Porque é isso também que encontrei de diferente na BANTUMEN: as pessoas têm de saber fazer tudo para que ninguém fique dependente de ninguém."
Esta visão de um jornalista multifuncional, capaz de navegar por diferentes áreas e tecnologias, é precisamente o que precisamos para o futuro. Não se trata de substituir jornalistas por inteligência artificial, trata-se de criar uma nova geração de profissionais que saibam trabalhar com IA, que entendam como ela pode amplificar (e não substituir) o trabalho humano, que consigam extrair o melhor destas novas tecnologias enquanto mantêm o foco no que realmente importa: contar histórias que importam, dar voz a quem não tem, responsabilizar os poderosos.
A história da Joana na BANTUMEN é, em muitos sentidos, a história do futuro do jornalismo. É uma história de encontro entre gerações, de fusão entre experiência e inovação, de equilíbrio entre tradição jornalística e disrupção tecnológica. É uma história que está apenas a começar, mas que já nos mostra o caminho para um futuro onde o jornalismo não apenas sobrevive à revolução da inteligência artificial, mas se torna mais forte, mais relevante, mais impactante graças a ela.
E é por isso que estou tão entusiasmado com o futuro da BANTUMEN. Porque temos pessoas como a Joana, que trazem não apenas competências técnicas, mas uma nova forma de ver o mundo, uma nova forma de pensar sobre o que fazemos e como o fazemos. E temos a sabedoria e a experiência necessárias para garantir que, no meio de toda esta transformação, não perdemos de vista a nossa missão fundamental: contar as histórias da lusofonia com profundidade, autenticidade e impacto.
No próximo episódio, vou falar-vos sobre como estamos a aplicar concretamente a inteligência artificial no nosso dia-a-dia na BANTUMEN, e como isso está a transformar não apenas o nosso trabalho, mas a própria experiência dos nossos leitores. Até lá, não se esqueçam de consultar a agenda cultural da BANTUMEN, há sempre algo interessante à espera de ser descoberto, graças ao olhar atento e à curadoria cuidadosa da Joana Alcântara.