OFF-STAGE #1 — Carta aberta: o que é que eu estou a fazer aqui?
Bem-vindo à OFF-STAGE, a newsletter semanal assinada por mim, Eddie Pipocas. Aqui vais encontrar bastidores da cultura, da BANTUMEN, da minha vida profissional e pessoal — com a verdade crua de quem
OFF-STAGE #1
Carta aberta: o que é que eu estou a fazer aqui?
A faixa “Autoestima”, do Baco Exu do Blues, foi o gatilho. Sentei-me a ouvi-la e pensei: vou escrever uma carta. Para quem? Não sei bem. Mas é isto.
Nunca me achei feio-feio. Sempre fui aquele gajo da segunda opção. Quando o “muito bonito” estava ocupado ou já a comer muita gente, aí sim, eu entrava em campo. Tipo banco de suplentes que acaba por resolver o jogo. Tipo o Éder que, mais tarde ou mais cedo, escreve o nome dele na história.
Sempre foi assim, na escola, nos amores, no trabalho. Até na bandalha. Nunca precisei de ser o melhor, bastava fazer a minha parte para entrar em jogo.
Cresci em Luanda. Bairro popular. Magrinho, pequeno, com pouca atenção, salvo por todos mas sem coragem para grandes aventuras. Tinha era vontade. Muita. De fazer mil e uma merdas. Sempre soube que a morte e os africanos andam de mãos dadas. Como nunca aprendi a lê-la bem, sempre tentei manter distância.
Hoje estou a menos de 10 anos dos 50. Tenho três filhas. Duas empresas onde sou sócio e fundador nenhuma rentável. E sinto-me perdido. Não faço ideia dos próximos passos. Não trabalho para ninguém há mais de 13 anos. Não desconto. Não contribuo para a segurança social nem para as finanças. Há uma década.
Como é que estou a sobreviver? Como Edwaldo, cidadão angolano emigrado em Portugal? Ou como Eddie Pipocas, esse alter ego meio caótico que inventei para aguentar a pressão dos dias? Não sei. Só sei que estou aqui. A viver. Sem planos para os próximos 15 dias.
Em janeiro de 2019 sentei-me à mesa com o coach Marco Victor, o ator Duke Mandinga, o rapper Prodígio e o empresário Rui Tati. Foi para um episódio de podcast. Estava ali rodeado de homens com trajetórias sólidas, vivências em países “evoluídos”, bem posicionados, com a cabeça virada para o futuro.
Mas eu sabia. Sabia que não era ali, naquela roda, que ia conseguir o visto para a minha visão de futuro.
Porque o meu problema sempre foi esse: a visão. O que raio é esse “futuro” que ando há anos a perseguir?
Um futuro que não sei explicar. Que não tem plano nem exército. E, mesmo assim, continuo a procurar por soldados.
Durante anos tentei formar esse exército. Procurei irmãos. Alianças. Amizades com um objetivo comum. Muitas vezes, tudo desmoronava como castelos de cartas. Já fui o amigo que mente para proteger, o que se afasta para não aborrecer, o que fala na cara, o que desabafa. Já fui tudo isso.
Hoje? Hoje sou o amigo que está aqui. Não para quando precisares. Mas para quando abrires esta newsletter e quiseres saber o que está a rolar.
Talvez seja isso que encontrei aqui: uma forma de existir na internet. Quinzenalmente, partilho contigo os bastidores do meu trabalho na BANTUMEN, as ideias que me movem e alguns dos dilemas de quem vive entre margens, sem mapa nem manual.
Se fizer sentido, vais saber como acompanhar. Se te tocar, vais querer continuar a ler. E se um dia achares que isto vale mesmo alguma coisa, vais encontrar um link para apoiar.
Sem pressão.
Só a verdade.
Que carta tão bonita.... Vou querer continuar a ler✨