OFF-STAGE #20: Surrupiámos uma Ideia (e Transformá-la num Legado)
Olá, amantes da cultura e da boa conversa! Sejam bem-vindos a mais um episódio do vosso refúgio semanal, o ‘Off the Stage’.
Sou eu, Eddie Pipocas, e hoje vamos espreitar os bastidores de um dos projetos mais ambiciosos e, sejamos honestos, mais desafiantes do universo lusófono: a PowerList 100 da BANTUMEM. E, como em toda boa história, a nossa começa com um segredo, um sussurro, uma ideia que, dizem as más-línguas, foi… bem, ‘emprestada’ com um toque de génio.
Imaginem a cena: eu e a Vanessa Sanches, as mentes (modestamente) brilhantes por trás da BANTUMEN, sentados numa qualquer esplanada lisboeta, o cheiro a café no ar e uma ideia a fervilhar. Não era uma ideia qualquer, era a ideia. Aquela que, anos mais tarde, se tornaria um farol de reconhecimento para a comunidade negra lusófona. Mas, como é que se ‘rouba’ uma ideia com tanta elegância que se transforma num legado? A verdade é que, no mundo da criatividade, a inspiração muitas vezes vem de onde menos se espera, e a arte de ‘surrupiar’ é, na verdade, a arte de reinterpretar, de dar um novo fôlego, de fazer acontecer onde outros apenas sonharam
E foi assim que tudo começou. Uma amiga lobista, das que têm contatos em todo o lado e uma visão para lá do horizonte, veio ter connosco com a ideia de criar uma premiação que incluísse todas as pessoas que têm feito pela comunidade, espalhadas pelo mundo. Uma ideia nobre, sem dúvida! Mas, e há sempre um ‘mas’, as regras que ela queria implementar passavam muito ao lado daquilo em que acreditávamos e do que é a própria BANTUMEN. Era tipo querer fazer um cozido à portuguesa com ingredientes de sushi. Não ia dar. Eu e a Vanessa, que não somos de modas, adorámos a essência da ideia falámos com outros meios de comunicação lusófonos - que aderiram de imediato - e, com a nossa habitual ‘desfaçatez criativa’, adaptámo-la ao que hoje é a PowerList. E, meus amigos, fizemos acontecer! Com a ‘gaja’ (a PowerList, claro) a brilhar no Teatro São Luiz, em Lisboa, em 2021. Foi um espetáculo, uma verdadeira festa da representatividade, e tudo porque tivemos a ousadia de pegar numa boa ideia e torná-la ainda melhor, à nossa maneira.
Mas não pensem que foi um mar de rosas, meus caros. Lançar um projeto desta envergadura é como tentar domar um unicórnio com uma colher de chá. Os desafios surgiram em catadupa, desde a busca incessante por parceiros que acreditassem na nossa visão – e que, mais importante, tivessem a coragem de a abraçar – até à árdua tarefa de encontrar patrocinadores dispostos a investir num projeto que, à primeira vista, poderia parecer uma utopia. Quantas portas se fecharam? Quantos ‘nãos’ foram ouvidos? A história não conta os detalhes, mas podemos imaginar as noites insones, as reuniões intermináveis e a resiliência inabalável necessária para transformar um sonho em realidade. A PowerList não nasceu por acaso; nasceu da teimosia, da paixão e da crença inabalável de que a representatividade importa, e muito.
E por falar em desafios, entramos agora no cerne da questão, no verdadeiro calcanhar de Aquiles de qualquer PowerList: a seleção. Imaginem a tarefa hercúlea de escolher apenas 100 nomes num universo de 300 milhões de pessoas negras que falam português, espalhadas pelos quatro cantos do mundo. É como procurar uma agulha num palheiro, mas com a agravante de que cada palha tem o seu próprio brilho, a sua própria história, o seu próprio impacto. A BANTUMEN, com a sua rede de parceiros em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Portugal, tem a responsabilidade de montar um painel de curadores que, com um olhar cirúrgico e uma sensibilidade apurada, consiga destilar este vasto oceano de talento e influência.
Mas como é que se escolhem os juízes deste concurso de estrelas? A dificuldade em selecionar parceiros para ajudarem a nomear os homenageados é um capítulo à parte. Não basta ter nome; é preciso ter visão, compromisso e, acima de tudo, uma compreensão profunda das nuances e das realidades de cada canto da lusofonia. É um trabalho de diplomacia, de construção de pontes, de alinhamento de propósitos. E, claro, a dificuldade em encontrar patrocinadores que não só acreditem na causa, mas que também compreendam o valor intrínseco de celebrar a excelência negra, é uma batalha constante. Não se trata apenas de dinheiro; trata-se de reconhecimento, de validação, de um investimento no futuro de uma comunidade que, durante demasiado tempo, esteve invisível.
E depois, há a matemática, a frieza dos números que tenta quantificar o intangível. Os critérios de avaliação da PowerList são rigorosos, quase científicos, mas aplicá-los a vidas e legados é uma arte. Pensem bem: Impacto e Transformação (50%), o pilar mais importante. Como se mede as mudanças concretas que uma pessoa gerou na comunidade? Como se quantifica a criação de oportunidades para outros ou o legado e a sustentabilidade do seu trabalho? Não é uma folha de cálculo; é uma tapeçaria complexa de histórias, lutas e vitórias. Depois, Inovação e Liderança (30%): a introdução de novas ideias, a quebra de paradigmas, a capacidade de inspirar movimentos. Como se atribui um valor numérico à faísca que acende uma revolução? E, por fim, Alcance e Relevância (20%): a visibilidade, o engagement qualitativo, o reconhecimento por pares e media, a presença em eventos relevantes. Não é apenas sobre ter muitos seguidores; é sobre ter uma voz que ressoa, que inspira, que move montanhas.
A fórmula é clara: Pontuação Final = (Impacto × 0.5) + (Inovação × 0.3) + (Alcance × 0.2). Mas por trás de cada número, há uma vida, uma trajetória, um esforço colossal. A PowerList é um testemunho da resiliência, da criatividade e da força de um povo. E a cada ano, eu, a Vanessa e toda a equipa da BANTUMEN enfrentam este dilema dos deuses, esta escolha quase impossível, para nos trazer os 100 nomes que, de alguma forma, estão a redefinir o nosso mundo. É um trabalho ingrato, mas absolutamente essencial.
E as vantagens? Ah, as vantagens! Uma das mais curiosas é que as pessoas homenageadas acabam por ter uma pegada digital onde o seu trabalho é reconhecido, o que é uma quase entrada automática na maior enciclopédia do mundo, a Wikipédia. Imaginem o poder disso! Além disso, e com base nos relatos que nos chegam, ganham uma visibilidade mediática estrondosa em todos os países de língua portuguesa. É como ter um passaporte VIP para o reconhecimento global, um selo de qualidade que atesta o impacto do seu trabalho.
E preparem-se, porque este ano vamos para a quinta edição! Sim, já lá vão cinco anos a celebrar a excelência. E, como não podia deixar de ser, vai voltar a acontecer em Lisboa, no mês de dezembro. Marquem nas vossas agendas, porque a festa da representatividade está de volta! E é por isso que, no próximo episódio, vamos continuar a desvendar os segredos e as histórias por trás desta iniciativa monumental. Fiquem atentos!
Também no próximo episódio, meus caros, vamos mergulhar numa estratégia de fazer cair o queixo: como é que vamos chegar aos 100 mil subscritores no YouTube através de um sorteio de um iPhone novinho em folha para os nossos leitores e subscritores.
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